Ex-diretor da PRF nega ação política em operações do órgão na eleição

  • 27 de maio de 2025

Ouvido pelo STF, nesta terça, como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torre, o ex-diretor de Operações da PRF Djailon Henrique Moura, investigado pela Polícia Federal no casos das operações de bloqueio de rodovias durante as eleições de 2022, foi questionado sobre as ações no pleito.

Ele disse que toda a ação do órgão se deu para “gerar sensação de segurança” durante a votação e não para dificultar a votação de eleitores de Lula, como apuram as investigações.

“Em reunião, solicitaram que apresentássemos nossos planos de ação e nos pediram que colocássemos o máximo de efetivo nas ruas para gerar sensação de segurança”, disse Moura. “Naqueles locais onde a Polícia Federal teria dificuldades para chegar mais rapidamente, a equipe que estivesse mais próxima poderia chegar para averiguar o crime eleitoral até que a PF chegasse”, continuou.

Segundo o ex-diretor, o pedido de reforço do efetivo se deu para o país todo e não apenas no Nordeste, reduto eleitoral do petismo.

Moura disse que não ouviu manifestação política de Torres durante a reunião sobre a eleição: “Pelo que me recordo, nessa reunião que tivemos, não houve nenhuma menção de Torres ou sinalização de apoio a Bolsonaro”.

O ex-diretor itiu a realização de operações que miraram ônibus que saíam de São Paulo e de estados do Centro-Oeste para estados do Nordeste, mas argumentou que as ações ocorreram por “suspeitas de irregularidades” que acabaram não se confirmando posteriormente.

“Essa operação estava programada e planejada bem antes da decisão de vossa excelência para que ela não ocorresse”, disse o depoente a Moraes. “O então diretor-geral da PRF nos orientou que fizéssemos a maior fiscalização possível em todas as regiões do país. Foi solicitado parecer da AGU, que indicava que tanto a ADPF quanto a resolução do TSE não impediria a fiscalização de trânsito”, seguiu Moura.

“O senhor, então, decidiu pelo impedimento da fiscalização de ageiros. Foi solicitada uma análise da assessoria técnica para elaborar uma resposta ao senhor. Sugeri que questionássemos qual era o alcance de sua decisão, mas achou-se que era desnecessário porque havia o entendimento que não seria necessário suspender a fiscalização de trânsito”, disse Moura a Moraes.

“Mais de 60% dos veículos fiscalizados, não demorou nem 15 minutos, o que comprova que só estávamos fiscalizando a situação do veículo e do condutor”, disse o ex-diretor.

No início do depoimento, o chefe da PGR, Paulo Gonet, chegou a solicitar a Alexandre de Moraes que o ex-diretor não fosse ouvido, já que é investigado e tem o direito de não produzir provas contra ele mesmo, o que o desobriga de dizer a verdade na oitiva.

Moraes autorizou o depoimento a pedido da defesa de Torres, que argumentou que o depoente poderia apresentar “a verdade” sobre o caso. Gonet então se negou a fazer perguntas ponderando que o depoente não precisaria ser verdadeiro em suas falas.

As outras testemunhas de Torres também negaram terem testemunhado movimentos golpistas ou ações políticas do ex-chefe da Justiça.

O dia 8 de janeiro

Ex-diretor da Abin, Saulo Moura da Cunha disse em depoimento que a agência emitiu relatórios de inteligência sobre o fluxo de ônibus com bolsonaristas rumo a Brasília nos dias que antecederam o 8 de janeiro.

“Do dia 6 para o dia 7 de janeiro de 2023, amos a receber alertas da ANTT de que havia um aumento de fluxo em direção a Brasilia, o que indicava aumento de adesão ao ato. Pedi então que meu adjunto entrasse em contato com a área de inteligência do DF”, disse Cunha.

Depois de deixar o governo Bolsonaro, Torres foi nomeado chefe da Secretaria de Segurança do DF. No depoimento, Cunha disse que a agência não recebeu dados de inteligência sobre os acampamentos bolsonaristas que alimentaram o protesto no dia 8 de janeiro, mas que monitorava ela própria a situação.

“Preciso ressaltar que a Abin não recebeu nenhuma informação de outros orgãos sobre os acampamentos. Estávamos monitorando esses acampamentos. Fiz parte do grupo de inteligência no governo de transição. Como havia discursos extremistas e antidemocráticos, fizemos relatórios de inteligência que foram encaminhados ao GSI da época e ao governo de transição. Até a manhã do dia 8, estávamos na dúvida se manifestações serviriam para reforçar acampamentos. Às 9h da manhã, com a assembleia dos manifestantes, identificamos que eles iriam para a Esplanada às 13h. Imediatamente reamos o alerta”, disse Cunha.

O ex-diretor da Abin disse ainda que a agência chegou a alertar com alguma antecedência para o crescimento do ato. Isso se deu depois do dia 6 de janeiro.

“Até dia 6 não tínhamos capacidade de avaliar tamanho da manifestação. No final do dia 7, já tínhamos informações de que manifestação seria de médio para grande porte. No final do dia 6 para o dia 7, conseguimos identificar que havia convocação para invasão e depredação de prédios públicos”, disse Cunha.

“Nosso primeiro alerta do dia 8 foi de que a manifestação tinha ganhado porte e de que havia pelo menos 100 ônibus de manifestantes mobilizados, o que totaliza cerca de 5.000 pessoas”, seguiu.

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